Quando me aproximei da fé católica, uma das maiores descobertas foi o universo profundo e, muitas vezes, mal compreendido, das devoções aos amigos de Deus, os santos. Este tema toca o coração de milhões, principalmente no Brasil, onde os dados do Censo 2022 do IBGE mostram que 56,7% da população acima de 10 anos se declara católica, mesmo diante de mudanças no panorama religioso. Em meio a essa transição, a ligação com os santos segue viva, sobretudo devido à sua força inspiradora, como destacado em estudo etnográfico realizado em Presidente Kubitschek (MG), que revela o quanto essa relação pode ser íntima e quase familiar para os fiéis.
O que significa honrar os santos?
Em minha caminhada, percebi que muitos confundem veneração e adoração, gerando dúvidas sobre o lugar dos santos na fé católica. Venerar, na tradição cristã, nunca é o mesmo que adorar. Somente Deus merece adoração, que em latim chamamos de “latria”. Já aos santos, reservamos a “dulia”, que é respeito, reconhecimento; à Virgem Maria, dá-se a “hiperdulia”, acima dos demais, mas ainda infinitamente abaixo da adoração devida apenas a Deus.
Imagens não são ídolos ou deuses. Elas são memórias visuais, lembranças de vidas virtuosas, assim como fotos de familiares nos lembram de sua presença e história.
Não adoramos imagens; lembramos de exemplos vivos de fé.
Segundo estudos sobre devoções e manifestações de religiosidade popular no Brasil, essa distinção chega ao povo mesmo que, às vezes, haja certa confusão sobre o significado de cada gesto.
Por que os santos intercedem?
Ao pensar na intercessão dos santos, vejo que muitos se perguntam: por que não ir direto a Deus? Faz sentido. O próprio Catecismo ensina que Cristo é o único mediador, mas isso não impede que peçamos a oração dos santos, participantes da mesma Igreja e da “comunhão dos santos”. É como pedir que um amigo reze por nós, só que esse amigo já vive plenamente na luz de Deus.
Há um consolo nisso tudo: saber que, mesmo diante de nossas lutas e dúvidas, há uma multidão de “testemunhas” (Hb 12,1) torcendo por nós.
Nós pertencemos a uma grande família espiritual, e ela não termina com a morte. Essa consciência faz parte do propósito do projeto Católico na Prática: resgatar o senso de unidade espiritual e de acompanhamento mútuo, tão característico das raízes do povo católico brasileiro. Inclusive, pesquisas antropológicas, como o estudo sobre religiosidade local em Minas Gerais, mostram que a intercessão dos santos é vista como algo profundamente comunitário e acolhedor.
Imitar os santos: exemplos possíveis, vida real

Santa Teresinha do Menino Jesus sempre me chamou atenção. Não foi pela quantidade dos seus milagres, mas por sua “pequena via”: confiar, rezar, entregar as pequenas coisas diárias a Deus. Ao conhecer sua história, percebi que a santidade pode ser vivida onde estamos, seja cuidando de crianças, lavando a louça ou programando sistemas, como faço em minha profissão de TI.
A leitura de vidas de santos é uma prática recomendada para quem busca inspiração para as virtudes cotidianas. Minha sugestão pessoal é iniciar pelo conteúdo de guia prático sobre virtudes cristãs, que detalha essas qualidades nas vidas dos santos reconhecidos pela Igreja.
- Santa Teresa d’Ávila: perseverança na oração;
- São José: trabalho silencioso, humildade;
- Santo Antônio: pregação acessível a todos;
- São Francisco de Assis: desprendimento dos bens, alegria simples;
- São João Paulo II: coragem diante da dor, abertura ao mundo.
Cada um deles enfrentou desafios próprios e respondeu com virtudes concretas, mostrando que a santidade cabe no cotidiano. A proposta do projeto Católico na Prática é, justamente, mostrar como esse caminho está aberto a todos que desejam buscar a verdade e a santidade.
Como escolher e cultivar uma devoção autêntica
Nem sempre a escolha de um santo é clara. No início, eu mesmo hesitei. Recomendo um passo de cada vez:
- Leia sobre diferentes santos, seus desafios, temperamentos, história;
- Observe com quem você se identifica;
- Comece pela oração simples, como o pedido de companhia e exemplo;
- Participe de festas e celebrações em homenagem aos santos da sua paróquia;
- Busque aprofundamento por meio de livros, como os sugeridos em dicas de leitura cristã.
Praticar é mais importante do que saber de cor.
Cultivar um vínculo com um santo (ou mais de um) não é superstição nem garantia de sucesso automático. Pesquisas destacam que, no Nordeste do Brasil, por exemplo, muitos veneram figuras não canonizadas, como aponta a análise sobre santos considerados populares. Essa pluralidade mostra como a relação espiritual é pessoal, mas sempre dentro de um horizonte de busca por Deus. Ao contrário de práticas mágicas, trata-se de amizade e aprendizado espiritual. Já escrevi mais sobre cultos populares e tradições em artigos sobre vida cristã.

Equilíbrio: práticas devocionais para crescer na fé
Já vi algumas pessoas se perderem entre rezas e promessas, ignorando o foco em Jesus. Os santos sempre apontam para Cristo, nunca para si mesmos. Uma devoção madura cresce quando:
- Incluímos os santos em nossas orações, sem substituir a oração ao próprio Deus;
- Participamos da comunidade, como sugiro nos textos sobre virtudes cristãs e vida em grupo;
- Usamos exemplos deles para inspirar nossas decisões cotidianas;
- Valorizamos ritos católicos, sem cair no automatismo ritualista;
- Estudamos a Bíblia e o Magistério, garantindo o enraizamento da fé.
Muitos bispos e teólogos, como estudos históricos do século XIX revelam, buscaram fortalecer a fé promovendo o exemplo e a amizade dos santos, sempre em comunhão com Cristo (estratégias da Igreja Católica no Brasil do Oitocentos).
Conclusão
Fazer dos santos parte do nosso dia a dia não significa apenas pedir milagres ou favores. É, acima de tudo, aprender com quem soube amar a Deus apesar das limitações. No Católico na Prática, sonho em construir esse caminho junto: valorizando a intercessão celestial, mas sem esquecer que cada um de nós é chamado à santidade concreta no agora.
Se você quer crescer nessa direção, convido a conhecer mais conteúdos, trocar experiências e, juntos, buscar a verdade e a santidade, essa é a grande missão que move o projeto. Descubra, aprenda, reze, questione. Os santos já viveram antes de nós, mas o convite é para hoje.
Perguntas frequentes
O que significa devoção aos santos?
É o ato de pedir a ajuda, inspiração e intercessão dos santos, reconhecendo-os como amigos de Deus e exemplos de fé para a nossa própria jornada cristã. Não é adoração, mas uma espécie de homenagem e pedido de companhia no caminho da santidade.
Como praticar a devoção aos santos?
Você pode escolher um santo com quem se identifica, aprender sobre sua vida, rezar pedindo intercessão, participar de festas litúrgicas e buscar inspiração em suas virtudes. O principal é manter tudo orientado a Cristo, como as propostas no guia sobre Maria na fé católica.
Quais são os santos mais populares?
No Brasil, destaco Nossa Senhora Aparecida, Santo Antônio, São Francisco de Assis, Santa Rita, São João Paulo II, São Judas Tadeu e outros. Mas há também santos populares reconhecidos apenas localmente, como aponta pesquisa sobre santos não canônicos no Nordeste.
Por que imitar santos na vida cristã?
Porque eles mostram, de modo concreto, que é possível viver o Evangelho mesmo com dificuldades, falhas e contextos diferentes. Suas histórias nos encorajam a buscar virtudes reais, como as detalhadas nos guias de vida cristã.
Onde encontrar orações dedicadas aos santos?
Elas estão presentes em livros de oração, nas missas, novenas paroquiais e também em apostilas online de pastoral, além das sugestões de literatura nas dicas de livros para crescer na vida cristã. Sempre recomendo começar pelas orações tradicionais e, aos poucos, inserir pedidos pessoais, espontâneos, ao seu santo de devoção.